A Tirania do Agora

Este ritmo de vida em que estamos inseridos pode ser chamado perfeitamente de “Tirania do Agora”. A pressão e a velocidade das circunstâncias parecem nos governar de tal forma que nos forçam a tomar decisões sérias em um curto espaço de tempo. As informações são sucintas e rápidas, “o mundo em um minuto”. Os alimentos são instantâneos. ganham a alcunha de pré-cozidos, semi-prontos, enlatados, congelados, fast foods, etc. E o que dizer dos medicamentos? Alguns “devolvem” o sono em segundos, outros aceleram o desenvolvimento da musculatura, existem os que promentem eficácia no emagrecimento e já inventaram os que despertam a libido. Sem falar das fórmulas mágicas para ganhar dinheiro rápido, conquistar uma grande clientela de um dia para o outro, fazer fortuna em trinta dias.

Parece que a tecnologia da velocidade facilita as coisas. Mas, na prática, os resultados são desastrosos: Não há tempo para refletirmos sobre as notícias; a aceleração dos processos de cozimento leva consigo os nutrientes; os efeitos colaterais dos medicamentos são sentidos lentamente, ou seja, nos suicidamos a conta gotas; perdemos o dinheiro em falsas expectativas e os relacionamentos caem no utilitarismo do mercado, em uma espécie de busca pela maximização do prazer e minimização da dor.

O maior problema nisso tudo é a transferência do imediatismo para as relações pessoais: Os jovens “ficam” para neutralizar carências; amizades tornam-se temporárias, exploratórias; pessoas memoráveis são facilmente esquecidas; trata-se o próximo como a uma máquina: não olhamos nos olhos, não abraçamos, não perguntamos o nome, apenas usamos, depois descartamos. Qual o fim disso tudo? Caos.

Esse ritmo tem influenciado também a prática cristã e a relação com Deus. Quando oramos queremos ouvir um sim ou um não objetivo de Deus. O “espera” nos incomoda. E nessa impaciência, acabamos nos precipitando nas decisões e sofrendo as conseqüências. Com relação à meditação na Bíblia, não a examinamos, alguns apenas apontam o dedo em busca de um verso fácil e útil à situação. Outros entregam folhetos, pois evangelismo impessoal é mais rápido, mais fácil e mais improdutivo. O culto é cronometrado, principalmente a mensagem. Chega-se atrasado, espera-se o término em cima do ponteiro.
Que bom que as histórias de homens e mulheres dos tempos bíblicos foram escritas para o nosso exemplo. Então vamos reparar no que aconteceu quando alguns deles caíram na sedução do agora:

- Esaú, na ânsia por comida, vendeu o direito de primogenitura ao oportunista Jacó e perdeu a benção (Gn. 25:27-34).
- Saul, pressionado pelo perigo iminente, ocupou o lugar do sacerdote Samuel e sacrificou. Perdeu o reino devido a segundos de paciência (1º Sm. 13:8-14);
- Davi deixou sua família em destroços, porque não conseguiu dominar o desejo súbito de possuir Bate-Seba (2º Sm. 11:1-5);
- Pedro foi repreendido várias vezes por suas ações impulsivas (Jo. 18:10, 11; Mt. 16:22, 23; Jo. 13:18);
- Ananias e Safira quiseram reconhecimento instantâneo, mentiram e morreram (At. 5:1-11).

Diante de exemplos assim, onde podemos encontrar uma postura correta ante a pressão do agora? Olhemos para Cristo, Aquele nos serve de Modelo em todas as coisas. Ele soube lidar com tempo e mostrou-se paciente até o fim de seu ministério:

§ Aguardava o momento adequado para revelar verdades sobre si mesmo e sua missão (Jo. 16:12);
§ Teve paciência com as pessoas, esperando a mudança no tempo oportuno (Lc. 22:31-34);
§ Destacou o que realmente é necessário (Jo. 8:38-42; Mt. 6:33);
§ Ensinou-nos a descansar na Providência de Deus (Mt. 6:25-34);

Como diz o dito popular: “o apressado come cru” ou como escreveu Salomão: "Não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado" (Provérbios 19:2); ou se preferir o que disse Chesterton: “Uma das grandes desvantagens de termos pressa é o tempo que nos faz perder”.

Neste tempo de tirania do agora, precisamos gozar a liberdade doada e ensinada por Cristo. Moderar o ritmo cronológico é uma questão de sobrevivência. Desenvolver a prática da meditação e a confiança no Deus Eterno é uma questão de saúde espiritual.

Pr. Alex Gadelha

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