Consumidos pelo Sucesso
Ele chegou à igreja como um desconhecido. Vestia-se de maneira tão simples quanto falava. Desempregado, os pés era o meio de transporte mais utilizado, antes de ganhar uma bicicleta usada de sua mãe. Estava na fase final dos estudos, próximo de concluir o “segundo grau”. Foi ao culto várias vezes. Ouviu, ouviu e ouviu até que decidiu se tornar um crente. Muitos parabéns e abraços de congratulações pela decisão. No início estava dominado pelo primeiro amor: Não media distância nem hora. Estava no culto de oração, na escola bíblica, no sábado jovem e era um dos primeiros a chegar ao Domingo à noite. Envolvido na leitura Bíblica, aprendia e transmitia o pouco conhecimento aos amigos descrentes. Após os cultos saía com a turma para a lanchonete. Às vezes tinha com o que pagar, outras vezes os irmãos chegavam junto e bancavam sua conta. Era simpático e amigável. Humilde, mas sociável e dedicado na Obra. Alguém que fazia questão de servir.
Mas um tempo depois a história mudou. Terminou o ensino médio, passou no vestibular e conseguiu um bom emprego. Naturalmente os estudos acadêmicos e o cansaço do trabalho foram distanciando-o da comunhão. “Estava cansado. Sai um pouco mais tarde do emprego e não tive disposição de vir à igreja”. Era a resposta que se repetia quando alguém perguntava o porquê de sua ausência. Como bom crente, nos primeiros passos de fé foi fervoroso, “trabalhador”, com disposição para suar em favor do Reino de Deus. No evangelismo e discipulado adquiriu habilidades na relação com as pessoas, desenvolveu o tato. E de tanto prestar atenção nas mensagens absorveu valores que construíram uma consciência ética e crítica. Tais virtudes foram levadas para o ambiente profissional e logo galgou promoções, setores melhores e salários maiores.
Comprou o seu primeiro carro. À prestação, é verdade, mais era seu. Mas, ao contrário do que se esperava, agora ia à igreja só ao Domingo à noite e às vezes surpreendia aparecendo na Escola Bíblica ou no culto de oração. Bem vestido, corpo definido, pouca fala e um olhar desconfiado. Reclamava do nível das participações, da qualidade do som, dos músicos e das mensagens do pastor. O seu ciclo de amigos reduziu-se aos de sua estirpe. Tinha afinidade somente com os economicamente semelhantes. Não tinha tempo para se engajar em nenhum ministério, pois sempre estava ocupado ou tinha outros programas mais interessantes. Foi dizimista fiel enquanto ganhava apenas dois salários, depois que a vaca engordou, sentiu dificuldades em compartilhar tão grande quantia de leite. De servo à consumidor de religião, de pombo à pavão, de aprendiz à sabe-tudo. Essa transformação apagou o brilho que existia em seus olhos e distanciou o seu coração de Deus e dos irmãos. O sucesso foi o seu carrasco. O conforto passou a ser sua filosofia de vida. O dinheiro passou a ser o seu deus.
Os fatos narrados aqui são baseados nos exemplos de muitos irmãos que passaram pela comunhão da Igreja, mas que cobiçaram riquezas, “se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores”.
Se esta história parece com a sua, cuide-se enquanto há tempo. Evite cair na tentação e na cilada do amor ao dinheiro, e em muitas “concupiscências insensatas e perniciosas, que afogam os homens na ruína e perdição” (1ª Tm. 6:9, 10).
Não posso concluir sem mostrar o outro lado, pois conheço pessoas que tiveram o mesmo começo, mas que não se deixaram dominar pelo lícito. Adquiriram propriedades, ampliaram seus recursos e ainda conseguiram preservar um coração de servo. São irmãos abençoados que abençoam a Igreja com o que ganham e principalmente pelo caráter que possuem. Crentes que distinguem sabiamente os valores celestiais dos valores terrenos, que sabem que “nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele” (1ª Tm. 6:7). Cristãos que acumulam tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam. Eles aprenderam que “onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt. 6:19-21).
Pr. Alex Gadelha
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