O ser trigo
"...a boa semente são os filhos do reino". Mt. 13:38
Essência,
propriedade e qualidade são três palavras utilizadas para descrever ou explicar
uma ideia, uma substância ou um valor impregnado a uma pessoa, objeto ou produto.
A qualidade refere-se às expectativas sobre necessidades que são supridas ou
não. Por isso, quando julgamos algo como de “boa qualidade” é porque que nos
satisfez, conformou-se ou superou àquilo que esperávamos. Quanto maior
criticidade ou conhecimento sobre o desejado, maiores as exigências. A
resistência ao tempo (durabilidade), a saúde (os nutrientes), a quantidade
(raridade/abundância), o conjunto (organização), a agilidade e precisão
(destreza e função) são elementos importante nesse tipo de escolha. Propriedade
é uma palavra para explicar aquilo que pertence a alguém ou a algo. As
propriedades podem ser enfraquecidas, perdidas, adulteradas ou destruídas. Já a
palavra essência descreve aquilo que é único, constante e imutável, que não
pode ser naturalmente transformado. Por exemplo, cada ser humano possui um
cheiro que lhe é próprio, os perfumes apenas se misturam a ele, produzindo uma
terceira fragrância. Outro exemplo seria o código genético ou DNA, singular entre
os que já passaram e os 7 bilhões que habitam o planeta hoje.
Nas parábolas,
Jesus usa aspectos físicos da natureza e ações do cotidiano para ensinar princípios
espirituais. Na narrativa do joio e do trigo são exploradas as diferenças entre
essências e propriedades destes cereais comparando-os a posição dos homens
diante de Deus, o Dono do Campo. Enquanto o trigo representa os filhos do
Reino, o joio refere-se à descendência do Maligno. Nessa parábola, o que o
trigo tem que o joio não tem? A sua origem é Divina, foi o Filho do Homem quem
o semeou (v. 36) e sua semente é boa (v.37), consequentemente produz frutos
saudáveis.
Não existe nada mais
preciso que revele a essência espiritual, as propriedades de caráter e a
qualidade da fé de uma pessoa do que as suas ações. O ser trigo implica em ser
nascido do Espírito Santo (Jo. 3:6), habitado (1ª Co. 6:19), selado (Ef. 1:13),
guiado (Rm. 8:14), fortalecido (Rm. 8:26), ensinado (Jo. 14:26), transformado por
Ele (Tt. 3:4-6). Quem é trigo vivencia eternamente a presença de Deus em seus
caminhos. Não há como separar-se dEle, porque está dentro. A Sua fragrância está
impregnada nos poros e nas entranhas, nos pensamentos, sentimentos e vontades
(2ª Coríntios 2:15). Cristo vive no trigo e o alimenta (Gl. 2:19, 20).
A essência bem alimentada
produz propriedades de caráter indissimuláveis. A principal delas é o amor. Não
conforme o mundo, mas segundo Deus. Entre o joio, amar significa não ter
limites de justiça, apossar-se do outro, usá-lo a fim de suprir paixões carnais
momentâneas, ignorar necessidades sensíveis, utilizar o cuidado como moeda de
troca.
O amor do trigo é derramado pelo Espírito Santo (Rm. 5:5), tem origem
Divina. É um fruto que acopla dentro de si virtudes como alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (Gl.
5:22, 23). Assim como do trigo literal derivam produtos que alimentam, como farinha,
pão, biscoitos, macarrão, os filhos do Reino nutrem a vida dos outros com
atitudes, gestos e ensinos que trazem luz, libertação e paz (Mt. 5:13-16).
E a qualidade do
trigo? Depende do cuidado. Por isso, é preciso, com toda diligência, dia após
dia, cultivar hábitos que fortaleçam a fé e acrescentem virtudes (2ª Pe.
1:3-11). Leitura e reflexão sobre a Palavra, oração individual e coletiva,
comunhão, louvor, serviço e exercício dos dons são práticas que adubam,
preservam e nutrem a vida de quem ama a Deus.
Enquanto vivemos
todo esse processo, o Dono do Campo está aguardando o tempo planejado para a
Ceifa. Quando chegar, resplandeceremos com a sua luz, porque o veremos como Ele
é e seremos semelhantes ao corpo de sua glória (Fl. 3:21).
Para estar no Celeiro de Deus é preciso ser trigo.
Pr. Alex Gadelha
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