Jesus, o Pão da Vida

João 6; Mt. 14:13-21; Mc. 6:30-44; Lc. 9:10-17
Eu Sou o Pão da Vida. Era comum na linguagem do Senhor, a utilização de metáforas para explicar verdades espirituais. Pão era referência de alimento, sustento, vida. Quando afirmou ser o Pão da Vida, reconheceu ser o sustento dos homens, aquilo que precisavam para viverem eternamente. Naquela ocasião, Jesus estava próximo do mar da Galiléia, onde uma grande multidão o seguia tomada por diversas motivações.

Alguns estavam ali por causa dos milagres: “Seguia-o numerosa multidão, porque tinham visto os sinais que ele fazia na cura dos enfermos” (Jo. 6:2). “Que sinais fazes para que o vejamos e creiamos em ti?” (Jo. 6:30). Fascinados com o sobrenatural precisavam do “ver para crer”, por isso se tornavam vítimas frágeis de lobos em pele de ovelha. Ao contrário destes, o propósito de Jesus não era atrair popularidade. Por muitas vezes se isolou quando percebeu que as multidões eufóricas ignoravam sua missão. Ele curava as pessoas não somente para autenticar seu ministério, mas também porque sentia compaixão do povo. Eram atos de amor sem interesses egoístas, sem hipocrisia.

Outros estavam na sua cola porque queriam liberdade política: “... estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei.” (Jo. 6:15). Os israelitas estavam sob a opressão do Império Romano e não suportavam mais tal situação, por isso viram em Jesus alguém que poderia libertá-los. Queriam exaltá-lo como rei, mas ele deixou bem claro que o Seu Reino não era terreno, mas celeste (Jo. 18:36).

Existiam ainda aqueles que gostaram do sabor do pão e queriam novamente saciar a fome: “... vós me procurais não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes” (Jo. 6:26). A mensagem de Jesus é a de priorizar o Reino dos Céus (Mt. 6:33). Eles deveriam se esforçar “não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará” (Jo. 6:27).

Os próprios discípulos possuíam uma visão estreita sobre a Pessoa de Jesus. Mesmo tendo testemunhado curas, exorcismos e sinais sobre a natureza, ainda não perceberam que ali estava o próprio Deus. O Senhor usou o milagre dos pães para experimentá-los (vs. 6). Observe as reações de alguns discípulos ante ao “problema” posto pelo Mestre: “Onde compraremos pão para tanta gente?”

Felipe enfatizou a escassez de dinheiro: “Não lhes bastariam duzentos denários de pão para receber cada um o seu pedaço”. Não conseguiu enxergar que aquele que fizera a pergunta era o Doador da Vida.

André enfatizou a escassez de comida: “Está aí um rapaz que têm cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tanta gente?” (Jo. 6:9). Esqueceu o dia em que rompeu suas redes de peixes quando estava com seu irmão Pedro pescando no mar da Galiléia (Mt. 4:18). Tanta fartura porque obedeceu a ordem de lançar as redes.

“Ao cair da tarde, vieram os discípulos a Jesus e lhe disseram: O lugar é deserto, e a hora é já avançada. Despede a multidão, para que vão pelas aldeias, e comprem comida para si” (Mt. 14:15). Na narração dos evangelhos, os discípulos perceberam a necessidade do povo, mas se omitiram, enfatizando o deserto, a chegada da noite e a escassez de dinheiro. Sugeriram que o próprio povo (pobres, doentes e famintos, além de crianças, mulheres e anciãos) fosse comprar comida (Lc. 9:12, 13). Ainda aconselharam Jesus a que os despedisse para “irem aos campos e aldeias vizinhas, e comprarem para a si o que comer”. A visão era curtaa, a fé era pouca.

Após a multiplicação dos pães, Jesus foi para Cafarnaum e a multidão continuava a segui-lo ainda com o gosto de pão na boca. Queriam que Jesus fizesse um sinal para respaldarem a sua fé. Lembraram do maná do céu, aquele que foi dado aos pais como prova da Providência Divina. Mas o discurso de Jesus os surpreendeu, pois disse que o verdadeiro pão do céu era dado pelo seu Pai. Era um alimento que daria vida ao mundo. Ouvindo isso, logo pediram que o Senhor desse sempre do pão celeste, para que não sentissem mais fome. Jesus responde categoricamente: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (vs.35). À partir deste momento, Seu discurso foi adquirindo um conteúdo exigente que confrontava as motivações dos candidatos a seguidores. Ele descortinou os seus corações, dizendo-lhe que não criam porque não eram conduzidos pelo Pai, mas por interesses egoístas (Jo. 6:36-40).

A afirmação de Jesus ganhava ainda mais contundência devido ao contexto da Páscoa, onde o simbolismo do pão estava vívido em suas mentes. Os judeus ao ouvirem tal afirmação, murmuravam tenazmente, pois associavam a frase com a idéia de que Jesus estava se auto-definindo como um ser celeste, “o pão que desceu do céu” (vs.41). Questionavam como ele sendo filho de José poderia ter vindo do céu? Em sua resposta, o Mestre usou as profecias para mostrar que era o próprio Deus e ainda garantiu a vida eterna a todo que nEle cresse. Disse que o pão que daria vida ao mundo era a sua carne. Estava se referindo ao seu sacrifício redentor, mas os judeus ainda não compreendiam e se retorciam: Como pode este dar-nos de comer da própria carne? (vs. 52). Na réplica, Jesus acrescenta mais um elemento ao seu discurso: O sangue. “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tende vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (vs.53, 54). O consumo de sangue era algo extremamente proibido pela lei judaica, por isso as palavras de Jesus irritaram e também causaram náuseas. Logo, esqueceram do pão que comeram a poucos dias e disseram: “Duro é este discurso, quem o pode ouvir?” (vs. 60). Não entenderam que comer a carne do filho e beber do seu sangue significava crer no sacrifício vicário que seria realizado na cruz do calvário e garantiria reconciliação com Deus.

Vendo a reação dos que o seguiam, Jesus então os apertou: “Que será, quando virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro veio? O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. Contudo, há descrentes entre vós” (vs. 62- 64). Muitos dos seus supostos discípulos não suportaram o discurso e o abandonaram. Ele volta-se para os doze e indaga: “Quereis também vós outros retirar-vos?” (vs. 67). Com certeza, esta pergunta mexeu com todas convicções dos que a ouviram, inclusive Judas. Mas, Pedro tomou a frente e disse: “Para quem iremos? Só tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus”. Após a exclamação, Jesus menciona a existência de um traidor entre eles. E assim conclui seu discurso em clima de mistério.

No início do episódio, Jesus estava entre uma multidão de “seguidores”, no final, apenas doze permaneceram. A verdade é que o pão se tornou amargo aos ouvidos daqueles que o seguiam movidos por outras intenções. Hoje, Jesus continua sendo o Pão para todo aquele que tem fome de vida eterna. A fome de quem resiste em crer será saciada com o genuíno alimento espiritual. Seitas e religiões têm oferecido petiscos que apenas engordam a alma dos que substituem o saudável pelo saboroso. Somente Cristo é o Pão da Vida e somente quem nele crer, pode dele experimentar.

Pr. Alex Gadelha

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