“Deixando as coisas de menino...”


O apóstolo Paulo, homem inteligente e inspirado, usou a metáfora do desenvolvimento biológico e psíquico para exortar aos crentes de Corinto sobre a necessidade de crescerem espiritualmente. Logo no terceiro capítulo de sua primeira carta aos coríntios considerou-os crianças na fé, pois não tinham desenvolvido a salvação, estagnaram-se em práticas infantis. Eram ciumentos e contenciosos, usavam os dons como forma de auto-promoção, lutavam por posições, havia queixas, discussões sobre alimentos, irresponsabilidade moral, espírito vingativo, precipitação e egoísmo.

No capítulo 13 da mesma carta, o apóstolo indica o caminho da maturidade. Em versos poéticos descreve tanto a importância como os frutos do amor. Na definição do amor cita uma lista virtudes: paciência, benignidade, confiança, humildade, bom senso, generosidade, mansidão, perdão, justiça, verdade, firmeza e eternidade.

Amar como Jesus amou é o foco da maturidade cristã.
Tomando o processo de amadurecimento natural, a transição da infância à fase adulta, Paulo incita os crentes à reflexão sobre o crescimento que devem adquirir à medida do tempo. Da mesma forma que a criança ao longo da vida cresce e deixa suas práticas infantis, assim também deve o crente crescer espiritualmente e abandonar atitudes que refletem imaturidade. Ele explica que quando era menino se comportava como menino, mas quando atingiu a maioridade, desistiu de agir como menino, agora deveria falar, sentir e pensar como homem.

Estas três faculdades destacadas podem nos orientar quanto ao processo de amadurecimento pessoal-espiritual que devemos viver:

“Falava como menino...” – As palavras de uma criança de modo geral são precipitadas e sem conteúdo. O assunto em um círculo de uma creche não é muito agradável aos adultos, muitas vezes é maçante e cansativo. As crianças falam de maneira repetitiva e atribuem demasiada importância a temas triviais.

“Sentia como menino...” – Crianças são susceptíveis, se magoam com facilidade, seus sentimentos dominam suas ações. Quando contrariadas, se comportam com intolerância. Raramente aceitam o “não” como resposta, ficam zangadas ou condoendo-se por dentro. São vingativas, revidam à agressividade através do choro, gritos, tapas etc. Nesta fase existe uma ausência de domínio próprio acentuada. Agem motivadas pelas paixões.

“Pensava como menino...” – Os primeiros anos de nossa existência são caracterizados pela assimilação de informações que vão garantir a sobrevivência e formação de nosso caráter. É neste período que idéias, crenças e valores são absorvidos pela nossa mente, por isso, não são estranhos em uma criança pensamentos superficiais e ingênuos sobre si mesmo, as pessoas e o mundo. No entanto, na fase adulta exige-se pensamentos que demonstrem experiência e conteúdo. Tratando-se de vida espiritual, espera-se que o cristão desenvolva pensamentos virtuosos, centrados nas coisas do alto e não daqui da terra (Fl. 4:8; Cl. 3:2). Deus nos chama à transformação a partir da renovação de nossas mentes (Rm. 12:2), como também ao cultivo da mente de Cristo em nosso cotidiano (1ª Co. 2:16, Fl. 4:8).

“Quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino”. Ao atingir a varonilidade, o homem fala, sente e pensa de forma consciente, sólida e adulta. A tolice infantil é substituída pela consistência argumentativa; em lugar de precipitações, reina o domínio próprio; a verborragia cede espaço à palavras de conteúdo e edificação; o orgulho é vencido pela humildade.

Enquanto se é menino, a sociedade tolera as coisas de menino, mas um adulto-infantil não é encarado com bons olhos. Homens se comportando como crianças causam desconforto e intolerância.

Mas, para alguns, continuar “menino” traz supostos benefícios. Como ausência de responsabilidades, satisfação de caprichos, cuidados especiais, proteção paterna etc. “Deixar” ou “desistir” das coisas de menino envolve disposição para se desatrelar das comodidades da infância. “Crescer dói”, por isso poucos se esforçam em buscar a formação de um caráter sério e maduro. As pessoas têm medo de mudanças, principalmente daquelas que exigem a saída do oásis do lar para as escaldantes areias do mundo. O resultado de tal postura gera homens e mulheres desequilibrados, inoperantes e covardes.

Paulo portava-se como um adulto na fé e desafiava os crentes coríntios a fazerem o mesmo. A Igreja e o mundo hoje precisam de “homens” que decidam resolutamente abandonar as coisas de menino e manifestarem em ações conscientes e corretas aquilo que Deus aprova.

Que Deus desenvolva em nós, seus filhos, um caráter santo, sábio e maduro!

Pr. Alex Gadelha

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