Para a liberdade foi que Cristo nos libertou



      Um pássaro que vive muito tempo em uma gaiola, não consegue enxergar a porta aberta. E mesmo que passe por ela, tende a voltar, pois se acostumou a enxergar o mundo entre arames. Os gálatas podiam ser comparados a pássaros que ganharam a liberdade, mas que insistiam em voltar para a gaiola. Vamos entender um pouco o contexto dessa história: A Galácia era uma província romana situada na região da Ásia menor, onde o apóstolo Paulo fundou várias igrejas por volta dos anos 45-48 d.C. Cerca de 10 anos depois, alguns mestres judaizantes se infiltraram nas igrejas, conquistando o zelo dos irmãos e impondo a guarda da lei, especialmente a circuncisão como requisito para salvação. Estando informado da situação, Paulo escreveu repreendendo os gálatas e defendendo de forma irrefutável a salvação pela graça e a liberdade cristã. Em vários trechos da epístola explicou que “por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl. 2:16; 3:11; 5:6; 6:15). Logo no início da carta, o apóstolo mostrou sua surpresa diante da facilidade com que os crentes daquela região estavam passando do evangelho da liberdade em Cristo para o da opressão da lei. Estavam pondo novamente sobre si o jugo da escravidão, trancando a cela pelo lado de dentro, retornando aos rudimentos fracos e pobres do passado de religiosidade.

          Essa situação vivida há séculos não difere muito da estrutura de algumas igrejas ditas “evangélicas” que ainda distorcem o “evangelho” para manipular e dominar pessoas. São instituições que ao invés de restaurar a vida das pessoas, acabam por adoecê-las por meio de um legalismo imposto de forma sutil ou explicita. Esses grupos pseudocristãos menosprezam todo o conhecimento que se diz cientifico, conluiam-se a candidatos e partidos ao invés de construírem uma consciência política ética e cidadã. Alguns até usam a vinda de Cristo como instrumento de alienação social. Pensam e pregam: “se Cristo está próximo, então não vale apenas investir nos estudos, na profissão ou na aquisição de bens”. Dessa forma impedem a socialização de seus membros, a criação de laços de amizade e compaixão, consequentemente, a divulgação das boas novas nos diversos meios, classes e lugares.  

O cristão consciente de seu lugar no mundo e livre pelo conhecimento de Deus sabe que todas as suas conquistas convergem para a expansão do Reino de Jesus. Ele trabalha não simplesmente pelo sustento, mas também pelo desejo de investir no crescimento do número de salvos pelo Evangelho; ele assume a cidadania porque luta pela liberdade da fé; pode envolver-se na política assumindo o desafio de ser diferente, não se corrompendo, mas sendo honesto e íntegro. O cristão que experimenta da liberdade conquistada na cruz não é um alienado social, mas quer está contextualizado para a evangelização do mundo. Entende que somos livres! Deus nos chamou para a liberdade, não para pecar, mas para viver a vida abundante que Ele prometeu em Cristo.

A liberdade é um tema polêmico, especialmente quando a fé está envolvida. Quando não se está consciente dela, alguns se tornam presas fáceis de egomaníacos que oprimem as ovelhas com seus “achismos”. Em contrapartida, outros em nome da mesma liberdade, cultivam uma permissividade que conduz ao pecado. Na fronteira, entre os extremos, está o bom senso pautado nas Escrituras. São poucos que o encontram, porque poucos são os que têm humildade para reconhecer conceitos que foram formados em opiniões pessoais ou culturais, não em bases bíblicas. Aliás, fundamentação bíblica possui somente quem mergulha na leitura e no ruminar da Palavra. Alguém que se alimenta apenas de púlpitos ou de simples teologia tem um discernimento infantil, por não exercitar suas faculdades (mente, emoção e vontade) (Hb.5:13, 14). Assuntos como tamanho e forma de roupas, estilos e ritmos de música, dança, gestos, ocupam lugar especial no trono da intolerância dos enclausurados pela tradição religiosa.


A liberdade que o Evangelho oferece foi conquistada na cruz com o amor e o sangue do Filho de Deus. Ignorar os seus ensinamentos e abraçar preceitos e doutrinas humanas é uma escolha insensata por escravizar a alma às más intenções de homens impiedosos. Por isso, é necessário um senso de vigilância que nos proteja das heresias e uma prática de estudo bíblico e oração que consolide a nossa fé. A exortação de Paulo aos gálatas continua viva e aplicável em nossas vidas: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl. 5:1).
            
Pr. Alex Gadelha

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