Bartimeu
Marcos
10:46-52 / Lucas 18:35-43
Quando escuto ou leio o texto que narra a cura do
cego no caminho de Jericó, sinto-me estimulado pelo seu exemplo de fé, vontade
e decisão. Bartimeu era um homem
que vivia à margem da sociedade, isso porque em seu tempo qualquer tipo de
deficiência ou necessidade especial era interpretado como consequência dos
próprios pecados ou das gerações precedentes (Jo. 9:2). Bartimeu possuía família,
pois o nome de seu pai Timeu é mencionado, no entanto, vivia como mendigo. Talvez
seus parentes não se importassem com ele. Os seus olhos derramavam lágrimas em
resposta à humilhação e a solidão. Posso imaginar suas mãos estendidas, suas
roupas moribundas, sua voz clamando pela sobrevivência. Bartimeu parecia ter
motivos suficientes para viver em um fel de amargura, sem fé nem
esperança.
No entanto, Bartimeu, como a maioria dos que não
possuem o sentido da visão ocular, desenvolveu uma capacidade que poucos
possuem: Ouvir. Seus ouvidos eram sensíveis, acurados e investigativos. Certa
manhã seu coração agitou-se quando ouviu tão numerosos passos de uma só vez. Algo
incomum naquele povoado situado na planície do rio Jordão estava acontecendo. “E,
ouvindo o tropel da multidão que passava, perguntou o que era aquilo”. (Lc.
18:36).
- O que é isso? Estamos sendo atacados? É uma
revolta contra o império romano? Por que tanta correria? Quem está chegando? “Anunciaram-lhe
que era Jesus, o Nazareno” (Lc. 18:37). Bartimeu com seus ouvidos curiosos
já ouvira falar sobre o nome de Jesus e com certeza tinha bem guardado em sua
memória auditiva muito de seus milagres: os coxos andam, os mudos falam, os
surdos ouvem, os cegos vêem! Os cegos vêem? Sim, os cegos vêem! Vou procurar a
Jesus, vou clamar até perder a minha voz, é minha oportunidade! É este o homem
que pode me libertar das trevas!
“Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!
Jesus filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Mc. 10:47, 48). Bartimeu
conhecia a promessa da vinda do Messias, pois clamava usando um dos títulos
messiânicos de Jesus. “E os que iam na frente o repreendiam para que se
calasse” (Lc.18:39). Quando queremos nos aproximar do Mestre sempre há quem
se sinta incomodado, censurando e querendo formar uma barreira de desânimo. Mas
nunca devemos desistir de procurar uma vida mais profunda com Deus.
“Mas ele
cada vez gritava mais...” (Mc. 10:48). O cego mendigo estava determinado a
encontrar-se com o Mestre e nada iria lhe impedir. Sua alma estava tomada de
convicção, força, disposição, esperança, vontade, fé.
E, assim, o clamor de alguém desejoso pela cura
conseguiu interromper por um precioso instante a caminhada de Cristo a
Jerusalém: “Parou Jesus”. Não somente parou, mas centrou toda a sua
atenção em Bartimeu: “Chamai-o”. Depois de tanta insistência e
resistência dos discípulos, Bartimeu ouviu algo maravilhoso: “Têm bom ânimo;
levanta-te, ele te chama” (Mc. 10:49). Jesus não foi em sua direção,
chamou-o e queria dele a ação de ir ao seu encontro. A resposta foi imediata: “lançando
de si a capa, levantou de um salto e foi ter com Jesus”. (Mc. 10:50). A
velha capa foi lançada na estrada poeirenta, não iria precisar mais dela para
se proteger do sol ou da chuva, seu habitat não seria mais o caminho de Jericó.
Sua fé se expressa no salto em direção ao Senhor. Ele atendeu o chamado de
Jesus!
Mas ao aproximar-se, o Senhor lhe fez uma pergunta
que parecia boba: “Que queres que eu te faça?” (Mc. 10:51). “É evidente que quero ter minha visão de
volta” poderia ser a resposta. Mas a indagação tinha um propósito. Jesus queria
ouvir de seus lábios o desejo de seu coração. É incrível perceber que nas
Escrituras o próprio Deus provoca a vontade do homem. Chamando-lhe “Mestre”, Bartimeu humildemente pede o que
havia perdido: “Que eu torne a ver” (Mc. 10:52). Ele conseguiu o que
tanto almejava: Seus olhos se abriram e a primeira face em sua frente foi a de
Seu Mestre: “Vai, a tua fé te salvou”. Você esta livre, está curado.
Jesus exalta a fé salvadora. E Bartimeu, diferente dos nove leprosos que não
voltaram nem sequer para agradecer a cura (Lc. 17:11-19), continuou ao lado
Jesus, seguindo-o estrada fora.
Uma das virtudes notáveis
de Bartimeu foi a sua determinação. Como a viúva na parábola do juiz iníquo que
o importunou por justiça até ser atendida (18:1-8), assim foi ele em busca de
sua cura. Ora, Deus fala por boca do profeta Jeremias: “Buscar-me-eis e me
achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” Jr.29:13. Quando
queremos nos aproximar de Deus, alguns tentam nos barrar com duras críticas,
piadas, acusações (2ª Tm. 3:12). Mas se realmente estamos determinados em
buscar a face de Cristo, nada nos impedirá, vamos romper todas as barreiras por
meio da fé. O clamor honesto e consciente de um homem faz o Senhor parar e
inclinar os ouvidos à sua oração. (2ª Cr. 7:14). O Senhor não cura quem não quer
ser curado, nem salva quem não está interessado em salvação. “Os sãos não
precisam de médico” (Mt. 9:12; Lc. 19:10). E se Bartimeu não fosse curado? O
fato de ouvir a voz do mestre e ter a sua carinhosa atenção já poderia ser
considerado o maior milagre de sua vida.
Pr. Alex
Gadelha
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