O Geógrafo


Em o “Pequeno Príncipe”, Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) provoca o leitor a pensar sobre o sentido da vida humana. Por meio de diálogos entre uma criança e vários adultos, o autor descreve tipos humanos habitando em diferentes planetas. Entre as pessoas visitadas pelo garoto, chama-me a atenção a figura do Geógrafo. Esse personagem é descrito como alguém preso ao conforto de seu próprio mundo, apenas anotando experiências de outros, sem nunca sequer escalar uma pequena colina. Ele engana a si mesmo, afirma-se um profundo conhecedor do relevo de seu planeta, mas na verdade vive limitado a seu pequeno mundinho.

A percepção de Saint-Exupéry leva-nos a pensar sobre as muitas vezes em que compreendemos intelectualmente uma teoria, um texto, um princípio, mas não conseguimos traduzi-los para o cotidiano da vida, a esfera das pequenas ações, o campo dos relacionamentos. É quando sabemos ler, interpretar, falar, escrever, mas não viver, conviver, amar.
Também são notórias as muitas ideias que não passam de “fumaça lógica”, verborragia, um monte de palavras bem escritas e ditas com fluência, mas sem sentido ou importância prática. Quando fundamos nossa existência em pensamentos assim, patinamos em areia movediça, presos a um esforço que não nos levará a nenhum lugar, senão ao fundo do pântano da alma. Naquele lugar onde habitam os monstros da frustração, decepção e mágoa.


Se viver em ignorância não produz mudanças, compreender apenas intelectualmente uma verdade inspirada por Deus não resulta no desfrutar de sua força libertadora. Na vida cristã, o saber e o querer precisam andar juntos, de mãos dadas, como a prática das disciplinas espirituais (oração, leitura bíblica) precisa estar unida à dependência do Espírito Santo. Quando assim acontece, as coisas mudam dentro e fora de nós, saímos do nosso mundinho geográfico e emocional, com a força e a coragem necessárias à jornada com Cristo.

O Geógrafo de Saint-Exupéry aponta para a incoerência entre conhecer o mundo e não a si mesmo. Sobretudo, faz meditar acerca da comum incoerência entre o que pensamos e fazemos, entre o que falamos e o modo como amamos a Deus no trato com as pessoas.

“Por isso procuro sempre conservar minha consciência limpa diante de Deus e dos homens.” (Atos 24:16).

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