Rupturas e Novas Perspectivas
Na carta escrita aos filipenses Paulo
narra como rompeu com o seu passado para criar uma nova e excelente perspectiva:
“... mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e
avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Fp. 3:13-14). Para conquistar um
conhecimento sublime o apóstolo rompeu com os privilégios políticos e
religiosos que gozava como cidadão romano e fariseu. Abdicou das
regalias para assumir o propósito de “ganhar a Cristo, e ser achado nele, não
tendo justiça que vem da lei, mas a que vem da fé em Cristo”. (Fp. 3:8,9). A compreensão de Paulo era de que a
glória humana era inferior ao favor Divino. Essa verdade inarrancável de
seu coração lhe custou a vida. Não é de surpreender, pois estava
pronto para sofrer e até morrer pelo nome de Jesus (At. 21:14). Como dizia Martin Luther King: “Quem não tem uma
causa pela qual morrer não tem motivo para viver”.
Ao longo da vida permitimos a
construção de diques que impedem o fluir da esperança e o amadurecimento.
De modo voluntário ou muitas vezes involuntário nos condicionamos a hábitos,
situações, afetos e pensamentos que rapinam o amor próprio. Autorizamos pessoas
a construírem muros de contenção à nossa liberdade. A tomada de consciência do que outros fizeram com e sobre nós não deve negar
a segurança e as aprendizagens que nos proporcionaram, mas exige pensarmos os condicionamentos sofridos
e permitidos. Assim estaremos aptos para selecionar o que é bom e depois deitar fora
tantas bugigangas que ocupam a mente e acumulam no coração o pó de sentimentos
escravizadores. Essa limpeza acontece através de decisões temperadas que
vislumbram boas consequências e novas possibilidades. Possibilidades nascem da
reflexão sobre futuras ações. Serão bem sucedidas se dirigidas pela mentalidade do Espírito de Deus (Rm. 8:6); vividas em oração submissa ao Senhor; seguindo o conselho de amigos que conquistaram o direito de serem ouvidos; e no exame cuidadoso e contextualizado da história de homens e
mulheres que amaram a Deus e provocaram rupturas nos sistemas internos e
externos repressores de suas almas. A Bíblia está repleta com narrativas de e
sobre pessoas assim.
Sem a direção do Senhor acabamos
alimentando o olhar superficial da carne, fragilizando o espírito e nos tornando presa
fácil daquele que penetra o aguilhão do pecado nos olhos incrédulos, cuja intenção é evitar o resplandecer da luz da glória do Evangelho de Cristo
(2ª Co. 4:4). Olhar a vida de fora para dentro resultará em escolhas egocêntricas
e mal consequentes. Quando a perspectiva é do Alto, então se pode perceber que não
é o casamento que precisa ser destruído, mas os preconceitos e falsas
expectativas sobre ele; que às vezes o problema não é o emprego nem o salário, mas o
valor excessivo que lhes são dados; que não existem famílias perfeitas, mas
seguras; que a religião pode ser superada pela entrega do ser ao Autor e
Consumador da fé (Hb. 12:1, 2); que a qualidade das relações depende da
qualidade dos corações.
Jesus é o fundamento inabalável e
irremovível que permite a dinâmica de rupturas e perspectivas que sustentam e
nutrem a fé de um discípulo. Ele é quem nos dá a liberdade para restaurar
paredes, pintar janelas e construir cômodos no ser. Tudo para acolher ao
próximo dentro e fora de nós. É isso que importa. É assim que se anda em novidade
de vida. Experimentando transformações internas materializadas no amor a quem está
espiritualmente longe e que precisa ser feito próximo. Só vale a pena romper
com as perspectivas opacas que nos cegam e escravizam, se as mudanças desejadas
em nós agradem a Deus e alcancem a vida dos outros.
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