Ano novo: qual o sentido?
Existem celebrações da vida em sociedade que oportunizam
a reflexão sobre o sentido de nossa existência. Pensar as muitas recorrências sob
as quais nos movemos e existimos nos faz bem, pois quando observadas
atentamente, desvelam valores e intenções que explicam as razões que nos arrancam
da cama diariamente. As muitas decisões e ações repetidas mostram o que está no
comando do nosso coração, quem governa nossas almas, para quem existimos.
E quando pensamos sobre os “porquês” de nossa
existência, é inegável que as circunstâncias que mais impactam nossa
autoanálise são as que circundam a previsível, mas inaceitável morte. Com
certeza, você já ouviu falar sobre o famoso “filme da vida” que “passa na
cabeça” de quem esteve próximo ao fim da linha. Nele são projetadas cenas do
passado e também imagens de pessoas que amamos. Ele evidencia o medo de ruptura
com este mundo e a insegurança que muitos têm sobre o que acontece após o
último suspiro. Isso dá porque nenhum ser humano emocionalmente saudável deseja
morrer. Fomos criados para a eternidade e trabalhamos em diversas frentes
(religião, ciência, artes) com o fim de nos preservarmos aqui, ainda que
conscientes desta impossibilidade.
Além dos momentos de assédio da morte, existem
outros não tão agressivos, mas também úteis à reflexão existencial. Aniversário,
formatura, casamento, nascimento de um filho, a conversão, o batismo e outros
ritos de passagem pontuam novas circunstâncias e posições na sociedade, constrangendo-nos
a pesar a nossa história, a indagar-nos sobre o “como cheguei até aqui?” e o
“como será daqui em diante?”.
O fim de um ano inclui-se entre os melhores
tempos para avaliar atos, relacionamentos, eventos e, em um sentido mais amplo,
a própria existência. Nos últimos dias do calendário é comum lembrarmos
decisões acertadas e feitos que nos fizeram bem, trouxeram êxtase e calmaria.
No entanto, a nossa memória não nos permite esquecer das más escolhas que
culminaram em dor, lágrimas, angústia e sofrimento. Com um sorriso ou rosto
enrijecido, nesse período lembramos daqueles que passaram por nossos caminhos
deixando impressões positivas ou negativas. Alguns permanecerão vivos na
memória afetiva, outros raramente serão lembrados, quando não esquecidos. Lembramos
também de conquistas, êxitos, de méritos ou dádivas que fizeram o coração
transbordar de alegria e saltar de gratidão ante a pessoas que contribuíram com
maior ou menor significância na formação do ser quem somos, pessoal ou
profissionalmente.
Todos esses elementos constitutivos da nossa
história de vida são importantes de serem pensados, mas é preciso reconhecer
que estão dentro de um plano mais amplo, de um sentido maior, eterno. A observação
da ordem, sequência, lógica e inteligência patentes em nossa configuração mental
e na organização do mundo onde transitamos, facilmente nos leva a conclusão de
que não caímos de paraquedas aqui. Existe Alguém inteligente, justo e amoroso
que criou, ordenou e sustenta o que nossos sentidos leem. É possível ver seu
cetro de justiça retribuindo as boas ou más sementes lançadas no espaço e tempo
dos relacionamentos. E não é difícil enxergar o quanto Ele se faz presente no
dia da angústia de quem o teme e o obedece. Sua presença repercute em gestos
serenos, ritmos calmos e no desapego do que é supérfluo.
A fé em Deus nos faz entender o início, o meio e
o fim da vida, seja do cosmos, seja da pessoa. É Ele quem define o melhor modo
de contemplarmos e gozarmos os poucos dias terrenos de peregrinação nesta
terra. Diante da morte, dá segurança aos que nEle confiam, certificando-os que
escaparão vivos para a eternidade. Quanto aos que o ignoram, estes já sofrem uma
triste existência aqui, a qual será imensuravelmente potencializada post
mortem.
Deus humilhou-se quando existiu humanamente, mas também provou seu amor ao se fazer carne, ao ocupar o tempo e o espaço na pessoa de Jesus Cristo. Em seus poucos dias com os pés sob o pó da terra, o Mestre viveu como devemos viver: adorando a Deus e amando as pessoas. Ele mostrou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo. 14:6). Chamou cansados e sobrecarregados a Ele, a fim de que encontrassem descanso para suas almas (Mt. 11:28 e 29). Ofereceu, de graça, a água da vida que sacia a sede de sentido e eternidade, que faz trasbordar rios do interior (Jo. 7:37 e 38). Jesus veio, viveu, morreu e
ressuscitou para trazer para a luz muitos escravos das trevas (Cl. 1:13). Quem
está nEle, não mais naufraga na vida, ainda que ventos impetuosos e vagas procelosas
se lancem contra sua alma, permanecerá em paz (Fl. 4:6 e 7). Estar nEle é viver
em conformidade com o propósito para o qual formos criados: a glória de Deus (Is.
43:7). “Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para
sempre!” (Rm. 11:36). Nossa vida terá sentido se a desfrutarmos assim, seja comendo,
bebendo ou fazendo qualquer outra coisa (1ª Co. 10:31).
Por fim, é certo que a maioria de nós escapará
viva deste ano. Infelizmente, uma minoria não. Aos que sobreviverem ao ano de
2021, haverá a oportunidade de usar o próximo calendário para colocar na
balança o como estar-se vivendo, sabendo que o “como” depende da compreensão do
“porquê” estamos aqui. Se entendermos a vida à luz da revelação de Deus em
Cristo e no Evangelho, tudo dentro de nós mudará, progressivamente. As
circunstâncias poderão até se repetirem, mas em Jesus, não reagiremos da mesma
forma porque não seremos os mesmos.
Quando nossas intenções e ações estão arraigadas
e alicerçadas em Jesus, a fé, a esperança, o amor a Deus e as pessoas, tomarão de
forma avassaladora o governo de nosso coração e farão enxergar a vida com
outros olhos, os espirituais. Sob o reino celestial viveremos bem, apesar deste
mundo tenebroso. E quando concluirmos a peregrinação, desfrutaremos a
eternidade, acessível pelo novo e vivo caminho aberto por Cristo na cruz.
Um 2022 em Cristo! É o meu desejo, minha oração.
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