CONSCIENTIZAÇÃO CULTURAL NA PRÁTICA MISSIONÁRIA DA IGREJA
CADA CRISTÃO, UM MISSIONÁRIO
Para esse primeiro momento, gostaríamos de pensar sobre a
importância da conscientização cultural para a prática missionária da igreja de
Cristo. E para iniciar, quero chamar a atenção para a verdade de que cada
cristão é chamado para ser um missionário. Sproul nos lembra que o primeiro
movimento missionário de expansão se deu como resultado de uma perseguição
acontecida após o martírio de Estevão, registrado em Atos, capítulo 7. No
capítulo 8, o evangelista Lucas registra que foram os cristãos dispersos
quem difundiram a mensagem do Evangelho quando se espalharam ou retornaram aos
seus lugares de origem após o Pentecostes. Ou seja, foram cristãos
comuns e não apenas os 12 apóstolos que tornaram o Evangelho de Jesus conhecido
em seu mundo!
Pensando assim, Sproul chama a atenção para a visão equivocada
de considerar como missionários apenas àqueles plantadores de igrejas sustentados
financeiramente. Ele explora a analogia de um jogo para dizer que no campo da
evangelização, todos devem entrar, não existe a figura de animadores de torcida
- aqueles que consideram a oração e o sustento como únicos deveres.
Ora, a própria palavra “Missionário” tem sua etimologia grega
no termo APOSTELLO, que significa “Enviado”. Nesse sentido, todo cristão é
enviado pelo próprio Jesus para cumprir a missão. E como diz Sproul, “é
nosso chamado sermos testemunhas”. Vale dizer que além de nos comissionar,
o Senhor Jesus nos dá todas os recursos necessários para cumprirmos a missão: O
Espírito Santo, a Palavra, os dons, a Igreja e principalmente a promessa de que
está conosco todos os dias, até a consumação dos séculos.
É claro que nenhum de nós pode evangelizar o mundo inteiro
sozinho. Todo missionário tem o seu próprio campo de ação. Alguns fazem missões
transculturais, levando tudo o que tem para comunicar a mensagem do evangelho a
diferentes culturas, línguas e crenças. Como diz o teólogo, “cada pedacinho
do mundo é um campo missionário”.
A ÚLTIMA PERGUNTA, A ÚLTIMA RESPOSTA
Sproul coloca uma situação que nos faz pensar sobre nosso
real interesse em seguir a Cristo. Ele indaga: “Se tivéssemos a oportunidade de
fazer uma pergunta a Jesus, qual seria?” As nossas respostas desvelarão muito
das intenções em seguir a Cristo. Ora, os discípulos tiveram a oportunidade de
realizarem uma última pergunta antes do Senhor ser assunto aos céus. E qual foi
essa pergunta? “Então, os que se haviam reunido lhe consultaram: “Senhor,
será este o tempo em que restaurarás o Reino a Israel?” (At. 1:6). A última
resposta de Jesus foi: “Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o
Pai estabeleceu pela sua própria autoridade. Mas recebereis poder quando o
Espírito Santo descer sobre vós, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em
toda a Judéia e Samaria, até os confins da terra.”
O REINO INVISÍVEL
O Rei Jesus governa sobre todo o universo nesse momento. No
entanto, é um reino invisível, nem todos conseguem enxergá-lo por isso vivem à
sua própria revelia, sem prestar contas de suas escolhas. Alguns acreditam que
Deus não existe, outros que existem muitos deuses. Se por um lado existem os
que creem no ser humano como um ser supremo, por outro há os que afirmam não
haver nenhum valor em nós. O grupo dos teístas professam fé em um Deus, mas
vivem como se Ele nunca existisse. Sem falar nos indiferentes, que apenas
questionam: “Que diferença isso faz?”.
Mas o fato é que as Escrituras dizem que sem fé é impossível
agradar a Deus e amar ao próximo como o Criador ordena em seus mandamentos. Sem
esse termo e conhecimento do Reino, os homens exploram, humilham, abortam,
oprimem, traem, ignoram a fome, o frio, a dor do semelhante.
VIVER A FÉ CRISTÃ HOJE
Em todas as circunstâncias da vida devemos ter o interesse e agirmos para tornar o reino de Deus visível. Para isso, precisamos depender do poder de Deus, mas também agirmos com sabedoria. Pensando assim, é essencial entendermos o tempo, o lugar e as pessoas com quem compartilhamos as boas de salvação. E, segundo Sproul, se considerarmos bem o mundo onde estamos, chegaremos à conclusão de que vivemos em uma Era Pós-Cristã Secularizada, pois em sua esmagadora maioria despreza ao Deus revelado nas Escrituras. E ainda que muitos religiosos professem fé no Evangelho, vivem distantes dos princípios e da Pessoa que o alicerça.
Sproul diz que no mundo atual “muitas crenças e filosofias
competem por aceitação em nossa sociedade”. Essa competição por aceitação
acabou por seduzir alguns cristãos religiosos à abrandarem as exigências do
evangelho, fabricando uma mensagem pluralista com o fim de agradar a esse
sistema de pensamento dominante.
Não é fácil compreender e viver nesse sistema pluralista sem
sermos contaminados por ele. Na igreja ou na escola, o secularismo, o
existencialismo, o pragmatismo, o hedonismo e tantas outras filosofias que
iremos estudar, têm influenciado nosso modo de viver a fé cristã. São ideias e
valores imersos na educação, nas ciências sociais, na política, mas também no
cinema, na literatura, na música, na arte. Muitos deles estão fincados em
nossos corações, fazendo com que sejamos incoerentes em nossa forma de falar,
agir, reagir, sentir.
E para tornar a prática da fé cristão ainda mais difícil e
necessária, esse pensamento pluralista dominante tem alimentado muitas leis que
governam o comportamento social. Em nome da tolerância e do respeito à
diversidade religiosa, a prática da oração e da leitura bíblica por exemplo tem
sido proibida em instituições e lugares públicos. Sob o argumento de que “o
ponto de vista religioso sobre a vida não deve ser imposto ao povo pelo
Estado”, se defende uma postura laica, supostamente neutra, mas profundamente
resistente à Pessoa de Deus, considerando como inexistente ou irrelevante.
Não pense que essa visão de neutralidade existe apenas no
interesse de juízes ateus ou relativistas. Na esfera religiosa é fácil ouvir
discursos que apontam para o mérito humano nas conquistas, especialmente quando
se trata de bens materiais. Tal postura minimiza ou até mesmo extingue o
sentimento de gratidão a Deus e o desejo de buscar sua face pela oração. Assim,
a dependência evidenciada na oração é substituída pelo mérito da qualidade do
sacrifício oferecido. Como diz Sproul, “O modo de entender o acontecimento
depende de como enxergamos o mundo em que vivemos. Depende de crermos que Deus
é soberano sobre a vida ou então acharmos que não há ninguém lá no céu”.
CRISTÃOS OU PRAGMÁTICOS?
Esse modo pragmático de ver o mundo deixa confusos muitos
cristãos imaturos, mas honestos. Eles se veem navegando em uma mar de
incoerências lógicas, com comportamentos contraditórios, como por exemplo: crer
na Bíblia como única regra de fé e prática, mas ajoelhar-se diante dos
argumentos e métodos da ciência psicológica na tentativa de entender e sanar feridas
na alma.
Claro que nem tudo na teologia cristã depende da lógica ou da
razão, pois Deus não cabe no crânio humano. No entanto, sem verdades lúcidas, a
vida é um caos de insegurança frente à tantas decisões que precisamos tomar. Perdidos
no caldeirão cultural, Sproul entende que ficamos em uma situação onde “não
temos certeza se somos testemunhas ou se nós é que recebemos um testemunho. Não
sabemos se somos os missionários ou o campo missionário”.
AUTOEXAME
Precisamos examinar nossos valores. Como dizia Sócrates, “uma
vida não examinada não vale a pena ser vivida”. E como afirma Sproul, “Nossa
vida diz muito mais sobre o que pensamos do que os livros que escrevemos. (...)
As teorias que vivemos são aquelas em que realmente acreditamos”. Então, que
você possa junto comigo perscrutar as ideias e ideais que estão com as rédeas
do seu coração e, caso perceba que estas não estão nas mãos de Cristo, que você
devolvê-las imediatamente, pois somente Ele é capaz de nos guiar os pastos
verdejantes e as águas tranquilas de sua vontade.
As reflexões tecidas aqui são baseadas no livro “Faça Diferença”, de Robert Charles Sproul, um importante teólogo e pastor norte-americano de linha reformada.
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