A Humildade Fala à Razão sobre o Amor


Por meio do engano, a Razão destronou o Amor e tornou-se Dona do mundo. Mas certo dia, quando estava passeando pelos jardins da teoria e caminhando pelo pátio da experiência, a Razão observou ao horizonte uma velha senhora, ex-conselheira do seu reinado, que estava a se aproximar. Orgulhosa, ignorou-a. No entanto, a pequena se aproximou, olhou serenamente em seus olhos e com uma voz mansa disse:

- Há muito quero falar-te. Que bom que a encontrei, pois preciso comunicar-lhe um pedido. Peço que me atendas.

A Razão não era de dar ouvidos a conselhos de ninguém e não se importando com a ética nas palavras iniciou um discurso irônico e altivo:

- O que desejas? Eu entendo todas as coisas, sou eu quem governa este mundo e sei por que me procuras: Estás doente e sabes que tenho a cura para todos os seus males!? E se é de recursos tecnológicos que precisas, criei e desenvolvi sistemas avançados, perfeitos e resistentes que irão fornecer conforto e todas as informações necessárias. Não esqueça que eu sou a Razão e caso esteja procurando respostas para seus problemas físicos, emocionais ou existenciais, possuo um leque delas. Você sabe, conheço milhares e milenares filosofias sobre a existência, elaborei outras centenas de terapias e domino a química da vida.

A senhora Humildade ouviu pacientemente toda a altivez da Razão, até ela decidir se calar. Quando isto aconteceu, dirigiu-se com firmeza e respeito:

- Imperatriz, não vim atrás de remédios. Também não estou à procura de tecnologia, porque sei que máquinas não eliminam dores na alma. A psicologia é uma ferramenta para o trato dos ambiciosos. As filosofias humanas podem até parecer encantadoras, mas não respondem à eternidade.

A Razão com a sua postura de pavão, não desceu do salto alto. Inclinou o seu olhar para a Humildade e disse:

- Ousas afrontar a Dona do Mundo?

A humildade, respondeu com serenidade:

- Vim, ó imperatriz, a mando da Sabedoria, vossa mãe. Ela pede que devolvas o trono do Reino das Virtudes a quem de fato pertence: ao Amor.

- Devolver o trono ao Amor? Quem é este? Não o conheço - Respondeu friamente.
Mas a Humildade continuou:

- Senhora Razão, o Amor é aquele que sacrificou a vida quando estavas sendo condenada devido ao males provocados pelas suas invenções. Foi ele quem pagou a dívida do reino quando todos passavam fome por causa da Ambição, sua esposa. Para promover a paz, ele foi capaz de abnegar a vontade, agir com domínio próprio e uma profunda afeição.

A Razão tinha perdido seus sentimentos entre os próprios pensamentos, ela não era mais aquela jovem submissa à Sabedoria, sua mãe. Cansou de ouvir a Humildade falar sobre o Amor, não suportou e a interrompeu abruptamente:

- Chega! Não me lembro de tal virtude. Não o conheço.

- Imperatriz, o Amor é o seu pai!

Ela silenciou. Ficou ali, estática, sem piscar os olhos, abrir um sorriso ou derramar uma lágrima. O tempo se passava e nada saia de seus lábios. A Fofoca passava por ali e ouviu sobre o ocorrido. Imediatamente foi ao Palácio para informar à corte imperial o que teria acontecido. Então, a Soberba, o Orgulho, a Inveja, o Ódio, a Presunção e todos aqueles que viviam ao redor da razão chegaram ao local. Logo expulsaram a Humildade à ponta pés. E na tentativa de reanimar a Razão declamavam elogios, bajulavam e davam-lhe louvores. Nada adiantava. Foi então que, de repente, ecoou um grande estrondo no Reino das Virtudes! A Razão acabara de despencar ao chão com todo o seu poder e pompa. Todos ouviram a sua queda.

Com o fim da Ditadura da Razão, o Rei Amor, a arquiteta Fé, a conselheira Paz, a princesa Justiça e todas as virtudes foram libertas da opressão lógica. O Reino voltou à paz. O Amor reassumiu o trono e a Humildade sentou-se à destra da Rainha Sabedoria.

E a Razão? A Razão precisou ser cuidada pelo Amor e pela Sabedoria, aprendeu qual era o seu lugar no Reino das virtudes e consentiu em viver submissa aos seus pais.

Pr. Alex Gadelha.

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